Não era fogo de palha

É isso aí. A primeira etapa da Fórmula 1, o Grande Prêmio da Austrália, acabou de terminar. O vencedor: o time Brawn GP. Não só ficou em primeiro lugar, com Jenson Button, como também ficou em segundo lugar, com Rubens Barrichello. É isso aí. Uma equipe que no ano passado era a fracassada Honda; o zero à esquerda das equipes de Fórmula 1; a grande vítima esportiva da crise; a grande piada da categoria; a que conseguiu ressurgir há apenas um mês ou pouco mais do que isso. A Brawn conseguiu mais do que ser um novo time estreante na categoria. Conseguiu se reinventar como time, pois foi o que precisou fazer para sobreviver e conseguir este resultado surpreendente. Afinal, a única equipe a estrear na F1 com vitória e segundo lugar, havia sido a Mercedes-Benz – equipe oficial de fábrica – em 1954.

E ainda entra aqui o agravante da Brawn ser o espólio de uma equipe de fábrica – a Honda – e ainda por cima só conseguir um patrocinador na véspera da estréia. Precisou fazer tudo isso com pouco dinheiro. E em um mundo – não só na F1 – onde dinheiro representa uma boa e considerável parte responsável por cada vitória, como conseguir superar os obstáculos com poucos recursos? Com muita inteligência. Aí está o grande mérito de Ross Brawn. Aliás, a Honda deve estar se roendo de arrependimento neste exato momento, graças a uma decisão tomada no calor do nervosismo, o que provou ser uma decisão estúpida e precipitada, a de deixar a F1.

Há também o renascimento de Jenson Button. O piloto inglês de 29 anos estava praticamente acabado para a F1. Tido como verdadeira revelação do automobilismo inglês quando estreou, em 2000, caiu no ostracismo, ao ver surgir o brilho de Lewis Hamilton, que se tornou o mais jovem campeão da F1. Com a saída da Honda viu sua carreira desabar à sua frente. Agora, vê ela renascer tão rápida da mesma forma como havia caído.

Mas o que dizer de Rubens Barrichello? Este sim, teve um verdadeiro renascimento. No ano passado, Rubens praticamente implorava à Honda para continuar por mais um ano. Só mais um ano, por favor. E a Honda não atendia aos seus apelos, até que considerou-o fora. Só que quem saiu primeiro, foi a equipe. Sem equipe, Barrichello estava fadado à aposentadoria. Eis que surge Ross Brawn e topa a tarefa de levar a equipe adiante e chama Barrichello para ajudá-lo. E eis que surge Barrichello, em um segundo lugar totalmente inesperado, e novamente com um carro bom nas mãos. Dá para acreditar?

Ainda estou meio atordoado com isso tudo que aconteceu. A estréia da Brawn foi para ficar na história. Dos restos e refugos de um time esculhambado, derrotado e à beira da morte, surge uma equipe vencedora, unida e capaz de tudo. Até de conquistar o título mundial.

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