Feio que dói

O ex-CEO da Apple, Steve Jobs, sempre foi conhecido como um cara que prezava a beleza e a arte em seus produtos. Se algo não saía como esperado, era classificado como "merda" e era praticamente refeito. Se Jobs estivesse vivo e visse os carros de Fórmula 1 da temporada que se inicia neste fim de semana teria dito: "Não consigo nem olhar para estes carros. Eles são horrorosos". 

E teria razão. Foi-se o tempo em que o fã da Fórmula 1 torcia para o carro mais bonito do grid. Jamais vou esquecer as figurinhas do meu álbum das temporadas de 87-88-89-90-91. Tinha cada um mais bonito do que o outro. Já nesta época já não existia mais a Lotus preta e dourada, mas sempre fui fã por ser um carro lindo. Tinha ainda a épica McLaren com a pintura da Marlboro. A Williams, quando tinha a pintura azul e amarela, com os patrocínios da Ici Tactel e da Cannon. Até a Lotus amarela, com a marca da Camel era bonita. 

Como esquecer também do lindo carro azul da finada Ligier? Havia ainda os carros da Minardi. Sim, até ela - eterna equipe de fundo de grid - tinha um carro bonito. Era totalmente preto, com detalhes em amarelo. Além dela, posso citar outras equipes mais obscuras mas que tinham pinturas bonitas. Quem não se lembra da March, com a cor verde-água, que pilotada por Maurício Gugelmin? 

Mas é claro tinham carros horrorosos também. A Eurobrun, com aquela pintura totalmente branca, era horrorosa. A Lola tinha roxo misturado com vermelho, amarelo, um mosaico sem sentido. Assim como a Benetton, que era o carro mais colorido do grid. Tinha a pintura sem graça da AGS, branco com detalhes em vermelho, no bico e nas asas. Havia ainda o carro de F-3000 adaptado e pintado com um vermelho estranho que a Dallara levou parao GP Brasil de 88.

Porém, bonitos ou feios, estes carros do passado - exceto as diferenças de pintura - não tinham mais nenhum ponto em comum no que diz respeito à aerodinâmica e ao design do bólido. Eram carros totalmente diferentes e os projetistas realmente criavam máquinas que nada tinham a ver umas com as outras. Havia algumas influências ou inspirações, no máximo.

Com o passar do tempo, as coisas mudaram. Os designers deixaram de serem originais e começaram a copiar-se uns aos outros. Quando a Benetton lançou o bico de tubarão, em 1994, e faturou o título, todos começaram a fazer igual. Cada vez menos o desenho dos carros diferiam uns dos outros. A diferença passou a ser um mero detalhe.

Hoje, chegamos ao extremo da questão. Em nome da segurança, todos os projetistas obedecem e criam os carros com os regulamentos embaixo do braço. Conclusão: exceto alguns casos, todos os carros se parecem demais. E o que é pior: são todos feios de doer. Em um mundo onde há muito dinheiro envolvido e há muitos interesses em jogo, o esporte passa a ser um pequeno e irrisório detalhe. 

Continuo acompanhando a Fórmula 1 porque gosto demais desse esporte para deixar de acompanhar. Mas vamos ser realistas: A Fórmula 1 nunca esteve tão longe de voltar a ser o que ela já foi. Carros terríveis e circuitos em locais demasiadamente exóticos são alguns dos responsáveis por essa mudança. 

Quando teremos o automobilismo puro novamente? A F1 precisa esquecer os euros e dólares um pouco e voltar o olhar para seu passado a fim de encontrar o caminho de seu futuro. Quando disse Steve Jobs certa vez, a tecnologia precisa estar aliada com a arte. 

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