Circuitos que amamos: Jacarepaguá

No Brasil também há um circuito que não mais existe. Na série "Circuitos que amamos" de hoje, trazemos o autódromo de Jacarepaguá que foi o palco Fórmula 1 no Brasil na década de 1980. 


A origem do circuito remonta aos anos 60, quando a região de Jacarepaguá e Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, não passava de uma terra longínqua, lar de pescadores e eventualmente de surfistas. Inaugurado em 1966, foi batizado inicialmente de Autódromo Nova Caledônia (à direita), com um traçado bem diferente com o qual ficou conhecido anos mais tarde. 

Poucas provas eram realizadas naquela então região remota da cidade. Até vieram os anos 70 e uma reforma completa, que um novo traçado foi desenhado e deixou o circuito com a cara que viria a ficar conhecido durante anos. 



Chegada da Fórmula 1


O autódromo de Jacarepaguá, recebeu a Fórmula 1, após a conclusão das grandes obras, em 1977. A categoria máxima do automobilismo mundial aportou lá já em 1978. 

E estreou com um grande momento: o segundo lugar de Emerson Fittipaldi na prova. Aquela colocação seria a melhor da história da equipe Copersucar (foto ao lado) em sua curta história na F1. Realizada em 29 de janeiro, a corrida teve como vencedor o argentino Carlos Reutmann, da Ferrari. Niki Lauda, com a Brabham, completou o pódio, chegando em terceiro.

Reutamann chegou cerca de 49 segundos à frente de Emerson, largando bem, da quarta posição, e dominando a corrida desde o início. A pole position foi marcada pelo sueco Ronnie Peterson, da Lotus, que fez 1:40.45. Fittipaldi largou em sétimo lugar. 

Auge nos anos 80



Apesar da F1 ter retornado a Interlagos nos Grandes Prêmios do Brasil de 1979 e de 1980. Mas a experiência foi boa, e a corrida em solo nacional retornou à ex-capital do país em 1981 e por lá ficou até 1989. 

No retorno, em 1981, a vitória ficou novamente com Reutmann, mas desta vez com o carro da Williams. Esta foi uma corrida controversa, pois ele se negou a obedecer às ordens de equipe e ceder passagem ao seu companheiro, o australiano Alan Jones, que chegou em segundo lugar.


O tricampeão mundial Nelson Piquet, conquistou sua primeira vitória no Rio, em 1983 (ao lado). E repetiu a conquista em 1986, em uma dobradinha com Ayrton Senna, segundo colocado. Porém, Piquet poderia ter obtido três vitórias em Jacarepaguá.

Isso porque o brasileiro da Brabham chegou a vencer a edição de 1982, com Keke Rosberg, da Williams, em segundo. Porém, ele e o finlandês foram desclassificados porque a FISA - sigla em inglês para Federação Internacional de Esportes Automobilísticos - declarou que ambos os carros concluíram a prova abaixo do peso mínimo exigido no regulamento. Com isso, a vitória foi concedida a Alain Prost (Renault) que havia chegado em terceiro.

No ano seguinte, Piquet se vingou. Ganhou a prova com um carro perfeitamente legal e começou a dar seus primeiros passos na conquista do bicampeonato de pilotos. Piquet voltou a vencer em 86, desta vez com Williams. Senna da Lotus, chegou em segundo. Completou o pódio de 1986, Jacques Laffite (Ligier).

A edição de 1986, foi a última vitória de um piloto brasileiro em Jacarepaguá e também a última dobradinha brasileira em solo nacional. As vitória seguintes de pilotos brasileiros no GP do Brasil, passaram a ocorrer no remodelado autódromo de Interlagos, que fez sua reestreia em 1990.

Nos anos 90, a Fórmula Indy (ou Fórmula Mundial?)



A saída da F1 do Rio de Janeiro, deixou o autódromo carioca, já batizado com o nome de Autódromo Internacional Nelson Piquet, com uma enorme lacuna. Houve então uma tentativa de reinventar a pista. Em um primeiro momento, veio a Moto GP. Mas o passo mais ousado foi o acerto para trazer, pela primeira vez na América Latina, a Fórmula Indy (que na época estava passando por uma cisão com a Indy Racing League e foi chamada, no Brasil, de Fórmula Mundial...).

Foi então feita mais uma reforma no autódromo, agora para a construção de uma pista oval por dentro do traçado. Era o Autódromo Oval Emerson Fittipaldi, inaugurado para a etapa do Brasil da F-Indy, de 1996, sob o nome Rio 400. 

Foi uma corrida intensa, com o retorno de Emerson ao circuito após o segundo lugar da Copersucar de 1978, e com a vitória do brasileiro André Ribeiro, piloto da equipe Tasman.

Foi a única vitória brasileira no autódromo do Rio. A Indy ficou por lá até 2000.

Virada do século e Olimpíadas 2016

Após a saída da antiga Fórmula Indy, em 2000, que na época passou a ser chamada de Champ Car, perdendo prestígio, dinheiro, pilotos e equipes para a nova Fórmula Indy, sob o domínio da IRL, Jacarepaguá ainda recebeu a edição de 2001 da Moto GP, vencida por Valentino Rossi, com a Honda.

Depois disso, o autódromo deixou de ter importância para o poder público, principalmente. Parou de receber reformas e foi se deteriorando aos poucos. Em 2004, o Rio ganhou o direito de sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007. E o então prefeito César Maia, viu no terreno do autódromo o local "perfeito" para construir novos equipamentos. Mas para isso, teria de destruir o autódromo. Nessa batalha, o autódromo passou a receber somente corridas de categorias nacionais e o traçado antigo foi usado pela última vez entre 2005 e 2006. Era o início do fim.

Seguiu-se então, uma verdadeira batalha entre a prefeitura, a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e, principalmente, os fãs cariocas de corridas de automóveis. Maia chegou a iniciar a destruição do autódromo. Mas a justiça impediu a destruição completa. 

Assim, Jacarepaguá conseguiu uma sobrevida, mesmo com metade do traçado - a outra parte cedeu terreno para a construção do velódromo e do Parque Aquático Maria Lenk, utilizados no Pan de 2007. 

Quando a GT3, categoria nacional que incluía carros como Ferrari, Ford GT e outras marcas famosas, chegou no autódromo carioca em 2008, os pilotos reclamaram muito das más condições da pista. Além disso, o público também sofreu com as precárias condições das instalações, bastante deterioradas. Foi o suspiro final do autódromo, já antevendo a chegada do fim.

E o fim veio quando o Rio ganhou, em 2009, o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016. A partir daí, os partidários das olimpíadas jogaram pesado e afinal conseguiram demolir o autódromo para que o Parque Olímpico fosse construído. 

Como contrapartida para a destruição do autódromo de Jacarepaguá (como mostra recorte de jornal acima), o poder público apresentou o projeto de um novo autódromo em Deodoro, na Zona Norte da cidade, em um terreno que seria cedido pelo Exército. O projeto foi concebido ainda na época do Pan de 2007. Os Jogos Olímpicos vieram e passaram e o tal autódromo jamais saiu do papel. 

No fim das contas, o terreno onde era o autódromo hoje jaz sob o abandono total. Um triste fim para uma pista tão apreciada e o perfeito retrato do descaso do país com a memória do automobilismo nacional.

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